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 Lupa Econômica


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O preço da sobrevivência

 

   Segundo o IBGE somos 190.732.694 milhões de brasileiros, a quinta maior população do mundo. E mesmo assim, apesar de toda essa ‘grandiosidade’, o trabalhador deste país é obrigado a sobreviver com um dos menores salários mínimos da América Latina, o equivalente a míseros e suados R$ 545,00. Traduzindo este valor para o cotidiano do povo, isto equivale a ridículos R$ 18,16 ao dia. Agora, vamos refletir, como um ser humano consegue sustentar uma família e dar a ela vida digna com R$ 18,16 por dia? Só a cesta básica, custa cerca de R$ 250,00! E a educação? A moradia? A saúde? Resta R$ 295,00 para isso e, segundo nossos governantes, é o suficiente. Isto é deprimente, mas é a realidade. Muitas pessoas se desdobram todos os meses para sobreviver e dar sustento aos filhos com esta quantia.
   Caro leitor, esta situação realmente nos causa revolta, certo? E o que dizer então das notícias que povoam nossas televisões sobre aumento salarial de políticos? Dia 15 de dezembro de 2010, o salário de senadores e deputados federais teve um pequeno reajuste, de mínimos 61%. Os coitados trabalham tanto, merecem este quase imperceptível aumento. Parece piada, mas isto é desconcertante. Qualquer brasileiro de bem, que trabalha e luta pelo seu sustento, fica enfurecido com tamanha covardia. O salário destes infames, subiu de R$ 16.512,09 para R$ 26. 723,13. Sem contar os benefícios que não estão inclusos na folha de pagamento. Os 81 senadores, por exemplo, tem direito a verba indenizatória de R$ 15.000, verba para transporte aéreo de até R$ 27.000, cota de telefone fixo de R$ 1.000, celular ilimitado, auxílio moradia de R$ 3.800, auxílio para combustível de R$ 520,00, constituindo o direito a 25 litros de gasolina ou 36 litros de álcool por semana, para rodar com seus carros oficiais dentro de Brasília, entre outras regalias. Eles conseguem tirar limpo e com folga a faixa de R$ 100.000 por mês. Agora, façamos uma conta rápida. São 81 senadores e 513 deputados federais, numa soma de 594 ‘cabeças’. Se multiplicarmos este número pelo salário base de cada um, obtemos a bagatela de R$ 15 873 539,22 milhões mensais. O brasileiro que recebe salário mínimo precisa trabalhar mais de 4 anos pra receber o que senadores e deputados federais recebem em 1 mês.
   E que tal falarmos sobre os impostos? O brasileiro vive em média 73 anos, sendo que 30 destes são dedicados exclusivamente para pagar impostos. Para ficar mais claro, podemos afirmar comprovadamente, que o brasileiro trabalha 148 dias ou 5 meses do ano, apenas para quitar suas dívidas pré-estabelecidas com o governo. Esclarecendo melhor, há exemplos de carga tributária sobre alguns dos produtos mais populares: a televisão (44,94%), geladeiras (37,84%), aparelhos de som (36,80%), ferros de passar roupa, ventiladores e liquidificadores (34,30%), lençóis (26,05%), luminárias (43,62%), panelas (35,77%), pratos e talheres (34,30%), toalhas de banho, de mesa e travesseiros (26,05%), almofadas (33,84%), colchão (28,36%). No supermercado, frango (18%), carne bovina (18,67%), óleo e margarina (37,18%), açúcar (40,5%), café (36,52%), sal (29,58%), leite tipo longa vida (33,66%), e se a dona de casa quiser comprar um alimento supérfluo, como o achocolatado em pó, por exemplo, paga a taxa tributária de 37,84%. Em produtos de limpeza o campeão é o álcool, com 43,28% de tributação, na sequência vem o amaciante (43,16%), sabão em pó (42,27%), detergente e sabão em barra (40,5%) e água sanitária (34,84%). Se tratando de produtos diversos, temos os livros com 15,52% de carga tributária, roupas (34,67%), sapato (36,17%), carros populares (37,55%) e telefones celulares (39,8%).
   Apesar da prova visível do absurdo que pagamos ao governo, eles ainda têm a coragem de pedir calma por parte dos brasileiros, prometendo que a reforma tributária mudará e melhorará tudo. E por acaso algum brasileiro ainda se arrisca a acreditar em promessas? Creio que não. Talvez seja mais confiável esperarmos esta tal reforma tributária cair do céu.
   E é assim que vivemos, caros leitores, e é desta forma que o trabalhador, que gira a roda da economia deste país, é tratado. Pensam que somos imbecis, se aproveitam do suor do nosso trabalho. Até quando continuaremos fechando os olhos para esta realidade gritante?    Enquanto viram-nos de cabeça para baixo, surrupiando os últimos centavos dos nossos bolsos e enquanto continuamos fingindo que não vemos nada, nossos governantes trazem a Copa do Mundo e as Olimpíadas para este país, o que acarretará um rombo de bilhões de reais aos cofres públicos. Esses bilhões serão investidos na construção de estádios e afins enquanto cerca de 23 milhões de brasileiros estão abaixo da linha de pobreza, na miséria.
   Um trecho do Hino Nacional Brasileiro diz: “Mas, se ergues da justiça a clava forte/ Verás que um filho teu não foge à luta.” Sinceramente acredito que nenhum brasileiro está vendo a tal justiça e, é difícil ‘não fugir à luta’ quando aqueles que deveriam nos reger parecem estar contra nós. Resumidamente, na realidade em que nos encontramos, fica difícil sentir orgulho deste hino, ou mesmo desta pátria.
Simone Taietti
Publicado no Recanto das Letras em 08/06/2011
Código do texto: T3022084